Cinco das dez maiores empresas de petróleo do mundo desistiram de participar do leilão de Libra, previsto para outubro
Até pouco tempo atrás, o termo pré-sal despertava sentimentos de
euforia e prazer. Liberava sensações positivas com promessas de riqueza
em cascata, prestes a jorrar sobre os brasileiros. Funcionava como uma
espécie de dopamina no cérebro das pessoas. Hoje, essa sensação começa a
se desfazer. Ela vem sendo substituída por um crescente sentimento de
incerteza. Ontem, por exemplo, cinco entre as dez das maiores empresas
de petróleo do mundo desistiram de participar do leilão do Bloco de
Libra, no coração do pré-sal, previsto para 21 de outubro (veja lista
abaixo).
Mas o quadro é pior do que se imagina. Note-se que, entre as cinco que confirmaram presença no leilão, uma delas é a Petrobras (cuja participação é obrigatória). Das quatro que restaram, uma é chinesa — a CNOOC. O interesse desse grupo não se restringe à questão comercial. Ele não está atrás apenas de um bom negócio. Os chineses precisam de petróleo quase como de oxigênio. Para eles, concorrer em Libra é algo estratégico. Tem um viés geopolítico. Por fim, registre-se que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) esperava que 40 empresas participassem da disputa em outubro. Somente 11 se inscreveram. A concorrência, portanto, será menor. Nada mais justo perguntar: o pré-sal deixou de ser atrativo? Pode virar um mico?
Mas o quadro é pior do que se imagina. Note-se que, entre as cinco que confirmaram presença no leilão, uma delas é a Petrobras (cuja participação é obrigatória). Das quatro que restaram, uma é chinesa — a CNOOC. O interesse desse grupo não se restringe à questão comercial. Ele não está atrás apenas de um bom negócio. Os chineses precisam de petróleo quase como de oxigênio. Para eles, concorrer em Libra é algo estratégico. Tem um viés geopolítico. Por fim, registre-se que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) esperava que 40 empresas participassem da disputa em outubro. Somente 11 se inscreveram. A concorrência, portanto, será menor. Nada mais justo perguntar: o pré-sal deixou de ser atrativo? Pode virar um mico?
Hoje, responder sim a essa questão (ainda) é um exagero. Ninguém nega.
Mas é evidente que os depósitos nacionais de hidrocarbonetos brilham
menos no cenário global do que o governo imaginava — e alardeava. Há
várias explicações para essa baixa da atratividade. Algumas são
conjunturais. Reservas de óleo têm sido encontradas em vários pontos do
mundo. Os prognósticos mais severos de escassez do produto estão
derretendo diante da realidade. Por outro lado, o gás de xisto provoca
uma revolução energética sem precedentes nos Estados Unidos. Esses
fatores contribuem parar tornar difuso o interesse dos grandes grupos
petrolíferos pelo leilão brasileiro.
Existem, porém, outras explicações. Libra vai inaugurar a vigência de
um novo marco legal no setor. Os contratos de concessão serão
substituídos pelos de partilha. Isso altera tudo. A mudança eleva a
participação do Estado no negócio de forma astronômica. O grupo que
arrematar o bloco será formado por empresas em geral, pela Petrobras
(cuja participação é obrigatória) e por uma estatal, a Pré-sal Petróleo
S.A. (PPSA). A PPSA terá direito a veto nos projetos operacionais e não
investirá um centavo na exploração e produção de óleo. Ninguém sabe como
isso vai funcionar. O Bloco de Libra também tem sido apresentado como
um dos maiores reservatórios já oferecidos às empresas em todo o
planeta. Pode ser. Mas ninguém pode cravar qual a real viabilidade de
retirar óleo e gás dali.
As empresas também estão ressabiadas com o pré-sal por outros motivos.
Quando os depósitos nessa região foram descobertos, em meados da década
passada, a indústria global investiu no Brasil. Ela previa um
crescimento vertiginoso para o setor. O que se viu, no entanto, foi o
contrário. Hoje, o segmento vive em compasso de espera. Amarga o avanço
da ociosidade e a queda no nível de empregos, segundo informações da
Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
A desistência das gigantes do setor do leilão de Libra dispara um
grande alarme sobre o pré-sal. E seu som é estridente. Mesmo porque não
se deve menosprezar a capacidade de algumas políticas em desmantelar
grandes projetos nacionais. O setor sucroalcooleiro é prova inequívoca
desse potencial. Na década passada, o Brasil despertou o interesse do
mundo por transformar o etanol em um combustível capaz de oferecer um
contraponto ao petróleo. Hoje, muitas empresas desse segmento estão no
buraco. Para segurar a inflação, o governo mantém o preço da gasolina
artificialmente baixo. As usinas de cana-de-açúcar, nesse cenário,
perdem competitividade. E quebram. Agora, a questão é saber o tamanho do
estrago que a exigência de investimentos gigantescos, as incertezas
regulatórias e a interferência estatal podem provocar em Libra — e no
pré-sal como um todo. Os primeiros indícios são preocupantes.
Fonte Época
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