Mercado espera com apreensão qual será a solução adotada pela petroleira de Eike Batista para honrar o pagamento de uma dívida de US$ 45 milhões na próxima semana; eventual pedido de falência teria forte impacto no Ibovespa
O vencimento de uma dívida de 45 milhões de dólares da OGX em 1º de
outubro deixou os agentes financeiros em estado de alerta em relação à
empresa. Há temor de que credores externos peçam a falência da
petrolífera de Eike Batista ou que a companhia recorra à recuperação
judicial para se organizar. Se uma dessas duas hipóteses se concretizar,
será um forte baque para o Ibovespa, principal índice da bolsa
paulista.
"Podemos ter uma situação histórica na Bolsa na semana que vem",
diz um operador de uma corretora paulista, referindo-se ao risco de
calote da OGX, que pode se tornar a primeira empresa listada no Ibovespa
a entrar em recuperação judicial. Tal possibilidade está sendo
levantada diante da insatisfação de grandes credores externos com as
opções que vêm sendo apresentadas por Eike Batista para pagamento da
dívida de 3,6 bilhões de dólares que a OGX tem com pesos pesados da
indústria financeira.
No último dia 12, o diretor-presidente da OGX, Luiz Eduardo Carneiro,
alertou para o fato de que o processo de reestruturação da dívida pode
incluir tanto uma recuperação judicial quanto um pedido de aporte de
mais recursos pelos detentores de títulos emitidos no exterior. "A
recuperação judicial é uma possibilidade. Não estou dizendo que vamos
entrar. Mas aquilo que for possível e impossível fazer para que a gente
chegue lá e consiga fazer a reestruturação financeira, nós vamos
fazer."
Paralisação nas atividades — Procurada na
quinta-feira para comentar o tema, a OGX não respondeu às solicitações
da reportagem. A BM&FBovespa, por sua vez, informou que os negócios
com os ativos podem ser suspensos caso a empresa apresente pedido de
recuperação judicial ou extrajudicial. Essa suspensão, segundo a Bolsa,
pode durar até trinta dias, com possibilidade de prorrogação.
A Bolsa pode encontrar algum artifício a fim de evitar um desastre,
acrescenta outro operador, prevendo uma corrida de zeragem de posições e
uma elevada pressão vendedora no papel, que pode se espalhar
rapidamente por outras ações.
Segundo cálculos de uma fonte com conhecimento no
assunto, considerada uma participação da ação ordinária da OGX (que dá
direito a voto) ao redor de 5% na composição do Ibovespa, uma queda do
papel para a casa de 0,20 real representaria uma baixa de cerca de 2% do
índice à vista. Um tombo ainda maior, rumo aos 0,10 real, por exemplo,
significaria uma desvalorização superior a 3,5% do Ibovespa. No pregão
de quinta, a ação fechou cotada a 0,37 real.
Opções — Temendo uma queda livre, que poderia
retirar ao menos dois mil pontos do Ibovespa, o chefe da mesa de renda
variável de uma corretora paulista acredita que haverá alguma saída
estratégica para essa questão. "Não acho que vão deixar a empresa
quebrar, pois isso arranha a imagem do Brasil, em um momento que estamos
tentando atrair investidores", pondera.
Os profissionais consultados, que falaram sob a condição de não serem
identificados, lembram que a suspensão dos negócios pode não ser
imediata, uma vez que a situação especial da empresa ainda teria de ser
avaliada. "Pelo que entendo, dada a norma da Bolsa para casos de
recuperação judicial, haveria um pregão de ajuste após o anúncio e
depois disso as ações ficariam suspensas e seriam retiradas do índice",
avalia um profissional.
Ele acrescenta que as ações potencialmente cairiam tanto nesse último
pregão que o ajuste no índice seria muito mais pela queda no preço do
que por sua saída do índice. Outro agente do mercado avalia que, caso a
notícia seja veiculada no meio do pregão, é provável que a bolsa
suspenda as negociações para evitar maiores distorções.
O Manual de Definições e Procedimentos dos Índices da BM&FBovespa
afirma que, se um ativo do índice passar a ser negociado em situação
especial, como a recuperação judicial, ele será retirado do índice ao
fim do primeiro dia de negociação nesta condição.
Mudanças — Os efeitos da OGX no Ibovespa têm sido
alvo de críticas no mercado há alguns meses. O problema deverá ser
resolvido com a nova metodologia para formação do índice. No início do
mês, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, afirmou que a
mudança foi iniciada há cerca de um ano e destacou que o fator Eike
não influenciou nas regras. A nova norma prevê que ações que valham
menos de 1 real não podem compor o índice.
(com Estadão Conteúdo)
Fonte VEja