"Estou convencido que as incorporadoras estão aplicando o golpe da pirâmide em quem compra imóvel no Brasil", por Marcos Antonio Araujo
Incorporadoras estão dando o golpe da pirâmide no comprador de imóveis – O provocador/R7 por Marco Antonio Araujo
Estou convencido que as incorporadoras estão aplicando o golpe da pirâmide em quem compra imóvel no Brasil. E, pelo visto, aquele que neste momento estiver usando suas suadas economias para adquirir a tão sonhada casa própria está no lugar daquele idiota que entrou por último e vai ficar no prejuízo.
O que aconteceu nos últimos cinco anos com o preço dos imóveis não é um movimento natural de mercado. É uma conspiração contra o povo brasileiro. Em algumas regiões das grandes cidades, o preço do m² simplesmente triplicou. Em São Paulo, uma rua do Centro da cidade conhecida por ser ponto de tráfico e moradia de assaltantes e trombadinhas foi de R$ 6.000 para R$ 12 mil, sem que nenhuma reforma urbanística tenha sido feita na área. E o Joaquim Barbosa não faz nada!
Todos sabem que entre os principais anunciantes (principalmente de veículos impressos) estão exatamente as incorporadoras e seus lançamentos imobiliários. Isso deve explicar, em parte, o porquê de esse setor ser tratado pela mídia de forma tão benevolente e acrítica, para não dizer suspeita e criminosa. Observem como, quando de algum lançamento, estão lá as “informações”: todas as unidades foram vendidas em um final de semana! A valorização tende a continuar em ritmo expressivo, apesar da queda no poder aquisitivo da população! O mercado imobiliário continua em ascensão, apesar da crise iminente! Tudo mentira.
Estou convencido que muito da tão falada bolha imobiliária foi construída e inflada por uma cobertura jornalística displicente, baseada exclusivamente nos interesses e na visão dos especuladores. O consumidor, o cidadão que deseja um teto pra chamar de seu, é sistematicamente tratado como idiota. E acaba sendo mesmo, pois se sujeita a pagar os preços abusivos, histéricos e indecentes cobrados pelos estelionatários.
O brasileiro realmente tem algo de muito estúpido. Simplesmente, não damos valor ao nosso dinheirinho — algo típico de um povo que nunca aprendeu a poupar e trata esbanjadores com admiração, em vez de desprezo. Só isso justifica pagarmos os valores estratosféricos dos automóveis vendidos aqui pelo dobro do valor justo. Enquanto houver compradores dispostos a serem esfolados para adquirir carros ultrapassados e inseguros, podem apostar, os fabricantes não vão baixar um único centavo.
Esse mesmo fenômeno tem se repetido na hora da comprar um imóvel — na verdade, apartamento, que é o que traz mais lucro para os construtores (e degradação para as grandes cidades). Não estivesse interessada em perpetuar esse ciclo de abuso econômico, a imprensa trataria do tema com o rigor necessário, informando o consumidor sobre a armadilha em que está caindo quem acredita que o m² vai subir 30%, 50% ,100% acima da inflação até o final dos tempos. Não precisa ser gênio para afirmar: uma hora vai explodir.
Mas não será como nos EUA (em que todo mundo se espatifou), por uma razão simples: o capitalismo nativo é pródigo em se defender. Cobra preços altos, financia a juros imorais e pede garantias draconianas. Portanto, quem vai quebrar não é o banco, a construtora ou o empreendedor. Acertou: que vai pagar a conta é o mané que entrou por último nessa esbórnia. Bem feito.
Pense bem: um apê de dois dormitórios custa, nos grandes centros, em bairros de classe média baixa e média, algo em torno de R$ 700 mil. Se o comprador desse estrato social tiver renda familiar de R$ 8 mil por mês (algo que menos de 3% da população atinge) e tiver a capacidade olímpica de economizar 30% dessa renda, em um ano de privações terá guardado R$ 28.800. Em dez anos, R$ 288 mil. Só ao final de 25 anos terá atingido o suficiente para quitar o valor inicial do imóvel. Em cima dessa quantia, nosso sistema financeiro vai jogar mais sete anos de juros, correções e taxas. Fora o IPTU e o condomínio que virão todos os meses. É um tiro na nuca.
Bastaria que, no curto período de um ano, ninguém aceitasse adquirir um imóvel na planta que se mostrará impagável. Um único aninho, não estou exagerando, e pronto: acabou a farra. A canalha que vem aplicando o golpe da pirâmide imobiliária simplesmente teria que baixar os preços a um patamar aceitável. Simples assim.
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