domingo, 1 de dezembro de 2013

DEZ MIL HORAS? JURA!?Quanto tempo molda um excelente profissional. Reflexão curiosa.

UM NOVO LIVRO QUESTIONA A TESE DE QUE O TREINO EXCESSIVO PODE LEVAR AO DESEMPENHO DE ELITE. MAS OUTROS ESTUDOS DIZEM QUE ESSE TEMPO É SÓ O COMEÇO DA HISTÓRIA

Desde que o jornalista e escritor Malcolm Gladwell lançou o livro Fora de Série – Outliers, em 2008, disseminou-se pelo mundo a tese das “10 mil horas”, o suposto tempo de prática necessário para chegar à maestria de uma atividade complexa. A tese que Gladwell tornou popular tem suas raízes num estudo de 40 anos atrás, do Nobel de economia Herbert Simon e do professor de psicologia William Chase. Eles notaram que os campeões de xadrez haviam passado entre 10 mil e 50 mil horas estudando o tabuleiro (e inúmeras posições de peças) antes de se tornar grandes mestres. Estudos posteriores ampliaram o escopo da descoberta para várias atividades complexas, como a criação de sinfonias ou o esporte de elite, e a equação das 10 mil horas foi pronunciada pelo psicólogo sueco K. Anders Ericsson.
Gladwell acrescentou exemplos fascinantes, como o extensivo treinamento dos Beatles (1) em pequenos shows na Alemanha antes de atingir a maturidade criativa. Poderia ter usado a história de Pelé (2): ele era o jogador que mais treinava. Chegava mais cedo e saía mais tarde que os outros. Zico (3) também passava horas treinando cobranças de falta depois que os demais jogadores tinham ido embora.

Talvez nunca venhamos a saber que peso tem a herança genética e que peso tem o esforço na equação do sucesso. Talvez até essa pergunta leve a uma espiral que vai perdendo o sentido: será que é a genética que torna a pessoa predisposta a treinar mais?
De qualquer maneira, em sua forma mais simples, a tese das 10 mil horas tem um recado muito atraente: o caminho do sucesso está aberto a qualquer pessoa disposta a trilhar o árduo percurso do aprendizado.
Pois é este recado que o jornalista e escritor David Epstein ataca em seu novo livro, The Sports Gene (“O gene do esporte”). Em entrevista à revista Outside, ele afirma que Gladwell fez uma leitura torta do estudo original, ao estabelecer uma correspondência perfeita entre tempo de prática e desempenho, o que não se comprovaria cientificamente. Pesquisas estabelecem, por exemplo, uma média de 11.053 horas de prática para se tornar um mestre enxadrista, mas há casos de gente que atingiu esse nível em 3 mil horas, enquanto outros praticaram 25 mil horas sem atingir a meta. Para Epstein, é a estrutura genética que determinará a quantidade de tempo necessária para se tornar um mestre. Treino demais poderia até atrapalhar. Um velocista nato como Usain Bolt poderia, de acordo com Epstein, prejudicar sua capacidade muscular com excesso de carga.
Gladwell rebateu a entrevista de Epstein com um artigo no site da New Yorker, no final de agosto. Diz que Epstein não leu direito o que ele escreveu. “Ninguém é bem-sucedido no alto nível sem um talento inato, eu disse em meu livro: conquista é talento mais preparo”, afirmou. Gladwell concede que três compositores de alto nível fizeram seus melhores trabalhos em menos de dez anos de prática: Shostakovich (4) e Paganini (5), em nove anos, e Erik Satie (6), em oito. Mas outros 73 estudados pelo pesquisador John Hayes, da universidade Carnegie Mellon (a mesma de Simon e Chase) levaram mais de dez anos. Ele diz que o ponto levantado pelo “fascinante livro” de Epstein é importante. Ele extraiu lições dos 73, mas há o que aprender dos outros três.

Em seguida, Gladwell contra-ataca Epstein. Diz que os exemplos de excelência atingidos com menos de 10 mil horas de treino não são exatamente de elite: a liga de basquete da Austrália, não dos Estados Unidos, e uma estatística de mestres de xadrez, mas não de grandes mestres. “Epstein escreveu um livro maravilhoso”, diz Gladwell. “Mas me pergunto se, em sua vontade de lançar uma provocação neste ponto específico, ele não construiu um argumento que não fica em pé.” Gladwell afirma que a descoberta feita há 40 anos por Simon e Chase permanece válida: em campos marcados pela complexidade mental, não existe dom natural. É necessário treinar, muito.

O quanto e o como
É possível que Gladwell tenha enunciado apenas uma parte da equação. É preciso começar com talento, e é preciso treinar durante horas e horas e horas. Mas será só isso?

Alguns relatos esparsos dão uma ideia não só de quanto, mas de como os grandes mestres treinam. Um ex-preparador físico de basquete conta que Kobe Bryant (7), cinco vezes campeão da NBA e duas medalhas de ouro olímpicas, não se limitava a praticar muitas horas. Ele escolhia, em cada treino, objetivos concretos. Como fazer 800 arremessos, por exemplo, para aprimorar a técnica de encestar. Isso levava várias horas, mas não eram as horas que Bryant estava contando, segundo o preparador. Eram os arremessos. Algo semelhante contou um humorista sobre Jerry Seinfeld8, cocriador da série que levava seu nome e fez um sucesso estrondoso durante dez anos. Segundo esse humorista, Seinfeld lhe disse que se obrigava a escrever uma piada por dia, e marcava os dias em que tinha criado uma piada com uma caneta vermelha, num calendário em sua parede. “Não importa se você está motivado, não importa se a piada é ruim”, teria dito Seinfeld. A única meta é “não quebrar a corrente”.

Ser mestre não basta
Como se não bastasse toda a dedicação e o método para chegar ao ponto da maestria, um novo estudo diz que isso ainda não é suficiente. Segundo pesquisadores da Universidade do Colorado-Boulder (EUA), não basta dominar uma tarefa para realizá-la bem. É preciso chegar à “sobreaprendizagem”: passar do nível da maestria.

No estudo, coordenado pela professora Alaa A. Ahmed, mediu-se a quantidade de energia gasta pelos participantes que operavam um braço robótico a partir de uma tela de computador. Enquanto aprendiam a manipulação, os participantes inalavam mais oxigênio e expeliam mais dióxido de carbono. Ao assimilar a tarefa, gastavam 20% menos de energia. Mas sua atividade muscular não decaía: os processos neurais continuavam evoluindo mesmo com menos energia, graças à sobreaprendizagem.

Esse ganho em eficiência mental libera energia para outras tarefas, diz a pesquisadora. É nesse ponto de sobreaprendizagem que um pianista começa a acrescentar mais intensidade à peça que está tocando ou um tenista passa a perceber com antecedência os movimentos do oponente. A sobreaprendizagem reduz o esforço mental necessário para o desempenho ideal. A conclusão, diz a professora, vale para qualquer atividade. E leva a um questionamento sobre um mantra do mundo dos negócios: o sucesso não viria quando saímos da zona de conforto, e sim quando nos aprofundamos nela. Talvez seja isso o que leve algumas pessoas a conseguir treinar mais de 10 mil horas.  

fonte Época














Maior cargueiro do mundo, mede um Titanic e meio

O MAIOR NAVIO DO MUNDO, QUE ACABA DE SER CONSTRUÍDO, NÃO SERIA GRANDE DEMAIS?


A resposta parece ser: não, senhor capitão. É verdade que causa certa vertigem logística a capacidade de carregar 18 mil contêineres – ou 182 milhões de iPads – dos 20 navios Triple-E encomendados pela Maersk (os dois primeiros foram entregues em agosto e setembro). Mas a indústria do transporte marítimo de cargas, muito baseada em economia de escala, também é um bicho gigantesco – e que só faz crescer. Quando entrar num metrô, repare como quase tudo o que você vê passa por um navio. O iPhone do adolescente, a camisa chinesa do executivo, a bijuteria da mocinha, até os circuitos integrados que comandam os vagões – enfim. A jornalista Rose George, que gostava de fazer essa brincadeira, conseguiu autorização – algo bem raro – para embarcar num navio de cargas, o Maersk Kendal, no qual viajou da Holanda a Cingapura. O resultado é o recém-lançado livro Ninety Percent of Everything, sem edição brasileira. A leitura revela que os contêineres são um dos maiores – e mais desconhecidos – negócios do planeta. E a invisibilidade é bem conveniente para lidar com os tropeços ambientais e trabalhistas do alto-mar. “Poucas indústrias são tão descaradamente opacas como a dos navios”, diz a autora. Veja, abaixo, mais fatos inquietantes desses gigantes.

“A A.P. Møller-Maersk é a maior empresa da Dinamarca, com vendas iguais a 20% do PIB do país. Seu faturamento é quase o mesmo da Microsoft. A Microsoft faz programas de computador; a Maersk traz os computadores. Uma é famosa. A outra, de alguma forma, é quase invisível” 
Rose George, autora de Ninety percent of Everything 

MAIS POLUIÇÃO
ESSA É UMA INDÚSTRIA BASTANTE POLUIDORA. A MAERSK, SOZINHA, RESPONDE POR 0,1% DE TODA A EMISSÃO GLOBAL DE GÁS CARBÔNICO. MAS O TRIPLE-E É 35% MAIS EFICIENTE NESSE SENTIDO

PRECINHO CHINÊS
MANDAR ALGO POR NAVIO É TÃO BARATO QUE FAZ MAIS SENTIDO ENVIAR BACALHAU DA ESCÓCIA PARA SER CORTADO NA CHINA (UMA VIAGEM DE 16 MIL KM) E VOLTAR, DO QUE PAGAR UM ESCOCÊS PARA FAZÊ-LO


MORTES (QUE NÃO SAEM NOS JORNAIS)
DOIS MIL MARUJOS MORREM POR ANO NO MAR E MAIS DE DOIS NAVIOS SÃO PERDIDOS TODA SEMANA. OS FILIPINOS SÃO A GRANDE FORÇA DE TRABALHO DESSA INDÚSTRIA


O NOVO GIGANTE
O MAERSK TRIPLE-E MEDE 400 METROS DE PROA A POPA, OU UM TITANIC E MEIO (QUE MEDIA 270 METROS). ELE FARÁ A ROTA ENTRE O NORTE DA EUROPA E A CHINA 

MAR SEM LEI
AS ÁGUAS INTERNACIONAIS SÃO A VERDADEIRA “TERRA” DE NINGUÉM. EM 2010, 544 MARUJOS FORAM SEQUESTRADOS POR PIRATAS SOMALIS. ATUALMENTE, EXISTEM CERCA DE CEM REFÉNS NESSA SITUAÇÃO 
(FOTO: DIVULGAÇÃO)




O gigante tem capacidade de transportar até 15 000 TEUs (1 TEU = 1 Contêiner de 20 pés). Levando em conta que, um contêiner de 20 pés tem, em média, um PBT (Peso Bruto Total) de 25 toneladas, o Emma Maersk pode transportar o equivalente a 17.045 mil caminhões Mercedes-Benz 1620 carregados.
Para operar esse navio, que é quase três vezes maior que o gramado do estádio do Maracanã e possui 11 gruas para o carregamento e descarregamento, é necessário uma tripulação de apenas 13 pessoas, devido ao seu alto nível de informatização e automatização.
A inovação também pode ser observada na pintura que envolve o seu casco, onde foi aplicada uma tinta a base de silicone que reduz o atrito com a água, economizando cerca de 1,2 milhão de litros de combustível por ano.
O Emma Maersk é de bandeira dinamarquesa, está em atividade desde setembro de 2006 atuando na rota da Ásia à Europa.
Ficha técnica Emma Maersk:
- Calado (carregado) – 16 metros
- Motor diesel de 14 cilindros em linha, produzindo 110.000 BHP, eixo e hélice únicos. — Velocidade de serviço 50 Km/h
- Custo estimado: US$ 145 milhões.

No Brasil, usamos mais e mais contêineres   

O valor de tudo que passa pelos portos do país quadruplicou em dez anos 
O Brasil acompanhou a tendência mundial e viu aumentar – e muito – a importância do transporte marítimo de cargas. Em 2012, os portos nacionais movimentaram 904 milhões de toneladas, quase três vezes a quantidade de 20 anos atrás. Quando se transforma isso em dinheiro, o salto é ainda mais impressionante. No ano passado, os terminais movimentaram US$ 465 bilhões, mais do que quatro vezes o valor registrado dez anos antes. Nos contêineres, a expansão se repete. Em 2002, 35 milhões de toneladas chegavam ou saíam do país dentro deles. Em 2012 foram 87 milhões, ou 9,66% do total transportado no ano – o resto são mercadorias levadas a granel, como grãos ou minério de ferro.  
fonte Época e Veja